Home / Entrevistas / ÂNGELO COSTA, Diretor Geral da PRORÁCIO - Consultoria e Gestão
PUB

ÂNGELO COSTA, Diretor Geral da PRORÁCIO - Consultoria e Gestão

Ângelo Costa, Diretor Geral da PRORÁCIO - Consultoria e Gestão, defende que a crise não dará tréguas às empresas durante os próximos cinco anos. Porém, sublinha que um correcto diagnóstico operacional e estratégico efetuado no tempo certo aos pontos fortes e fracos da empresa, pode salvar o negócio do insucesso e de caminhar para a insolvência.
01 Mar. 2016
ÂNGELO COSTA, Diretor Geral da PRORÁCIO - Consultoria e Gestão
PUB
Em que medida o encerramento de empresas do setor automóvel tem a ver com a falta de organização e rigor financeiro das mesmas?Esta pergunta é pertinente, levar-nos-ia a conhecer a história de muitas empresas do ramo automóvel, pois todas tiveram um percurso – início da actividade, crescimento, apogeu e queda. Este trabalho seria interessante e permitia conhecer a história das empresas do sector automóvel.Como sabemos e por diferentes...
Em que medida o encerramento de empresas do setor automóvel tem a ver com a falta de organização e rigor financeiro das mesmas?
Esta pergunta é pertinente, levar-nos-ia a conhecer a história de muitas empresas do ramo automóvel, pois todas tiveram um percurso – início da actividade, crescimento, apogeu e queda. Este trabalho seria interessante e permitia conhecer a história das empresas do sector automóvel.
Como sabemos e por diferentes vicissitudes económicas, o mercado automóvel esteve contingentado até 1987, e é a partir daqui e com a entrada de Portugal na CEE, que o parque circulante começa a crescer e dá um salto significativo, com a reformulação das redes de concessionários de todas as marcas.
Este crescimento acelerado, leva a que as novas estruturas societárias das empresas, sejam compostas por pessoas oriundas do sector – comerciantes, mecânicos e outros, que tinham conhecimento do dia-a-dia na sua área de trabalho, mas com pouca apetência e conhecimento de organização empresarial e rigor financeiro.
No entanto, devemos realçar, que estes novos empresários, deram um inquestionável tributo ao sector, pois criaram-se estruturas novas e extremamente bem apetrechadas, novos postos de trabalho. Para este incremento, também contribuíram os fundos comunitários disponíveis para o comércio – SAMEC, SIR, PROCOM, POE, SIPIE e MODCOM, programas que ajudaram o sector automóvel a crescer e a modernizar-se.
Não podemos esquecer o PROCOM ESPECIAL ANECRA AMBIENTE, programa liderado pela ANECRA e desenvolvido e implementado pela PRORÁCIO, o qual abrangeu 200 empresas do sector e foi considerado pelas entidades gestoras, como um sucesso.
No entanto, a maioria destas empresas, sempre teve um grande deficit de organização, de rigor financeiro, mas principalmente de estratégia e princípios de gestão, daí que muitas delas e nos últimos 10 anos, tenham vindo a sentir grandes dificuldades e a perder protagonismo: umas por dimensionamento excessivo, outras por perda de vendas, outras porque a sucessão não foi devidamente assegurada, outras porque não conseguiram fazer frente aos encargos assumidos, etc…
Constatamos, que a falta de estratégia, de rigor organizacional e financeiro, conduziram muitas empresas para o estado em que se encontram.
Principalmente, e a partir de 2008, com a crise financeira instalada e as dificuldades de acesso ao crédito, aliadas a um controlo de gestão e financeiro, como referimos, tecnicamente pouco exigente, conduziram, infelizmente, à queda de muitas empresas, umas por insolvência direta, outras os bancos a tentarem resgatar por intermédio de fundos criados e outras a tentarem sobreviver ao dia.
A actual conjuntura veio agravar a gestão rigorosa necessária às empresas?

Como têm conhecimento, a nossa ligação ao setor automóvel, já tem umas décadas, desde termos laborado em multinacionais, até sermos o parceiro mais antigo da Anecra, vai fazer em 2013 - 20 anos de ligação. Sempre temos pugnado nos colóquios e palestras em que participamos, por defender uma organização – circuitos de documentos, metodologias de trabalho e controlo de gestão – económica, financeira e de exploração, extremamente rigorosa e em todas as suas vertentes. Sucede e infelizmente para as empresas, que a atual conjuntura, veio "por a nu”, a falta de rigor que tem existido na esmagadora maioria das empresas do setor, o que as coloca numa situação extremamente débil, perante a banca, fornecedores e principalmente o mercado.
Os empresários como donos das empresas, são os responsáveis pela sua gestão, mas constatamos e ao longo do País, que a esmagadora maioria das empresas que dão o apoio contabilístico, não sabem trabalhar com base numa contabilidade de exploração ligada ao setor automóvel, dividida por: automóveis novos, automóveis usados, peças e acessórios, serviço assistencial – mecânica, chaparia e pintura, montar este sistema dá bastante trabalho mas acaba por ter os seus proveitos, pois as decisões que se tomam, são racionais e não empíricas. Esta é uma área que gostamos de trabalhar e de ver os seus resultados.
No actual contexto económico o lema deve ser "aguentar o barco” e esquecer o lucro imediato?
A situação atual está a mudar o setor automóvel, uma das consequências é o surgimento de grandes grupos, pelo que aqueles que conseguirem sobreviver sem se deixarem "engolir” devem tentar aguentar o barco e esquecer as margens de lucro do passado a fim de chegarem a bom porto.
Hoje em dia as margens são muito diminutas e deve-se sobretudo aguentar a situação para não se sucumbir perante a conjuntura do mercado e da crise financeira.
Na sustentabilidade organizacional das empresas, foram criadas situações irreversíveis com a crise?
Sim, nomeadamente em empresas que fizeram investimentos elevadíssimos em instalações dois ou três anos antes de a crise se instalar e que recorreram ao excessivo endividamento bancário para desenvolver o seu negócio. Entretanto, da banca e empresas financeiras de apoio ao comércio automóvel, começaram a surgir bastantes créditos não aprovados e o sucedido conduziu a situações de empresas com viaturas vendidas, mas que na prática não as conseguiram transacionar, por falta de financiamento ao cliente. Isto está a acontecer na venda de carros mas também na parte assistencial, porque muitas pessoas já se dirigem às oficinas a pedir orçamentos para reparações e por vezes só fazem metade da reparação ou pedem para pagar em três ou quatro vezes, o que obriga as empresas e para não perderem o trabalho, a ter um fundo de maneio próprio, o que hoje em dia, infelizmente não sucede. Esta situação é irreversível e as empresas que não tenham uma gestão financeira equilibrada, vão ter grandes dificuldades em manter-se no mercado. Não sabemos ao certo o que vai acontecer, mas o impacto é para já negativo, daí a quantidade de empresas a encerrar as suas portas, de Norte a Sul do País.
Quais os maiores erros que ainda se praticam nas empresas face à conjuntura que vivemos?
Um dos maiores problemas com que as empresas se deparam, é, infelizmente, não saberem ao certo "a quantas andam”. Se perguntar às empresas de topo, todas têm uma gestão controlada nas diversas vertentes. Se formos a empresas médias ou a micro – menos de 10 colaboradores, os chamados sub-concessionários ou oficinas multimarca, se lhes perguntarem, não sabem qual a margem bruta correta nas peças e acessórios, nem no serviço assistencial – mecânica, chapa ou pintura, ou qual é o seu índice de absorção de serviço, é tudo mais ou menos. É necessário um trabalho de fundo para que estes erros sejam evitados. Os gestores ou donos das empresas por vezes têm de tomar decisões de investimento ou de racionalização de recursos humanos e não conseguem agir com base em números reais, é um pouco por empirismo que o fazem, e às vezes as medidas tomadas são extremamente tardias. O que aconselhamos às empresas, e como já referimos, é efetuar um diagnóstico operacional e estratégico à sua organização para que todas as medidas que tenham de tomar, de reestruturação da própria empresa, sejam efetuadas numa base real. Tomar a opção correta em tempo útil evita danos maiores, conduzindo a empresa a bom porto.
O factor decisivo para o sucesso nas empresas é a qualidade dos seus recursos humanos?
Isso é inequívoco, os recursos humanos têm o maior peso em qualquer estrutura, sem recursos humanos adequados em qualquer empresa não se consegue atingir os objetivos que se pretende. Podemos ter equipamentos tecnologicamente evoluídos mas se não tivermos quem saiba trabalhar com eles, não conseguimos chegar a lado nenhum. Hoje em dia, com o desenvolvimento da tecnologia as empresas têm de trabalhar, cada vez mais, a vertente dos recursos humanos.
Por outro lado, em todas as estruturas, e estamos a falar de microempresas com menos de 10 trabalhadores e pequenas empresas com mais de 10, onde se conhecem os responsáveis da estrutura, defendemos, que o exemplo tem de vir sempre de cima. Quem comanda tem de dar o exemplo a quem é comandado, caso contrário dificilmente terá sucesso. Se repararmos há grandes organizações com sucesso porque o exemplo veio sempre de cima, a chamada cultura empresarial, e o que se aplica às grandes empresas, aplica-se também às pequenas empresas, estas ainda com maior acuidade.
Em geral, os empresários das empresas do setor automóvel, estão à altura dos desafios que têm pela frente?
Nesta altura, a maioria dos empresários foram apanhados pela crise e a maior parte deles, viveu a época do apogeu automóvel, ou seja a chamada época de ouro, e talvez não se tivessem preparado para a situação que estão a atravessar, que é uma situação extremamente complexa e totalmente diferente das crises anteriores. Se olharmos para o plano macroeconómico, não sabemos o que vai acontecer nos próximos um, dois, três anos, o que é preocupante, vivemos praticamente o dia-a-dia. Muitos empresários poderão não ter a capacidade e vontade para dar a volta, pois como tivemos oportunidade de referir, os contornos desta crise, são totalmente diferentes das crises anteriores e a sua complexidade, também.
As empresas terão de se habituar ao longo período de dificuldades que aí vem, nada será como já foi. Infelizmente, nesta altura a rentabilidade das empresas ligadas ao setor é muito baixa e em muitos casos negativa.
No entanto, acreditamos que os empresários, quer aqueles que possuem bastantes anos de experiência como os que chegaram há poucos anos ao mercado, vão conseguir dar a volta ao texto.
Quais as principais atribuições da PRORÁCIO?
Dado o nosso historial de ligação ao setor automóvel, quer pessoal quer empresarial, conseguimos prestar um serviço bastante abrangente às empresas do ramo.
 Elaboramos para as empresas que nos solicitam, um Diagnóstico Operacional e Estratégico da empresa, ou seja, tirar uma fotografia à empresa e a toda a sua envolvente, abordando as diferentes vertentes operacionais e funcionais da mesma. Isto é, avaliar a estrutura organizacional da empresa, avaliar os seus pontos fortes e fracos e a partir daí, traçar um Plano de Ação, com base num cronograma de implementação, a fim de minimizar os pontos fracos e maximizar os pontos fortes, como também, levar a que a estrutura organizacional, esteja toda imbuída numa mudança de paradigma.
O setor automóvel, possui quatro grandes áreas operacionais: automóveis novos, automóveis usados, peças e acessórios e serviço assistencial – mecânica, chapa e pintura. Tem de haver um conhecimento muito grande por parte do empresário para saber a rentabilidade de cada área operativa, ou seja, aconselhamos à criação de um relatório de exploração, que aborde os principais rácios de análise. Por exemplo, as empresas raramente controlam as horas que foram vendidas e as que foram perdidas por parte do trabalhador, em relação às horas de presença pagas, o gestor / empresário, necessita de saber o que se passa relativamente a todos os aspetos da sua empresa, ao nível da organização, parte económica, área financeira, rentabilidades sectoriais e indicadores de exploração, a fim de poder tomar decisões em tempo útil.
Prestamos serviços de assistência contabilística e consultoria, tendo por base o que foi referido, a fim de que as mesmas se possam organizar internamente e assim possam continuar a operar no mercado
Outra área que gostamos de laborar, é a recuperação de empresas. Por vezes, os empresários assinam acordos de pagamento com os bancos e fornecedores, sem fazer uma análise do que podem ou não cumprir, é preferível, fazer um acordo, com base na realidade da empresa e que seja exequível o seu cumprimento. Temos trabalhado bastante nesta área dos planos de recuperação, a fim de evitar que as empresas entrem em incumprimento e mais tarde em insolvência, que acaba por ter sempre um grande desgaste emocional.
Acreditamos, que as empresas que partam para uma gestão correta e baseada em dados reais, mantendo uma postura séria no mercado, podem assim, ultrapassar com um grau de dificuldade menor, as adversidades do seu mercado operativo.
PUB  
PUB  
PUB