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Mundo inteiro à espera de chips para poder vender carros novos

A produção automóvel tem sido obrigada a travar a fundo devido a uma peça pequena, mas central no controlo de todo o aparelho. As previsões apontam para que o problema só fique resolvido, no melhor dos casos, em 2022.
03 Ago. 2021
Mundo inteiro à espera de chips para poder vender carros novos
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Podem ter apenas entre 10 e 14 nanómetros – nada mais nada menos que 0,000000010 ou 0,000000014 metros -, mas estão a causar tantas perdas à indústria automóvel que a situação é já considerada uma "catástrofe”. Os chips semicondutores são peças centrais para o funcionamento de aparelhos electrónicos como telemóveis, computadores ou automóveis. E o facto de estarem a ser produzidos em menor quantidade do que a necessária, e por...
Podem ter apenas entre 10 e 14 nanómetros – nada mais nada menos que 0,000000010 ou 0,000000014 metros -, mas estão a causar tantas perdas à indústria automóvel que a situação é já considerada uma "catástrofe”. Os chips semicondutores são peças centrais para o funcionamento de aparelhos electrónicos como telemóveis, computadores ou automóveis. E o facto de estarem a ser produzidos em menor quantidade do que a necessária, e por entidades externas às fabricantes de automóveis, está a deixar o mercado em stresse.

"A tendência é incontornável e deve-se à quota crescente de tecnologias de condução autónoma e assistida para manter os condutores confortáveis e seguros, bem como a electrificação dos veículos com a gestão sofisticada exigida do desempenho da bateria e outros componentes electrónicos”, explica ao NOVO Adão Ferreira, secretário-geral da Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA), dizendo que, em todo o mundo, as fábricas estão a parar produções. "A falta de chips está a arrastar toda a cadeia de fornecimento, como, por exemplo, à indústria de componentes para automóveis. A realidade anunciada para um período de dois anos é uma catástrofe. Portugal não é excepção. Depois de notícias que davam conta da paralisação de diversas fábricas, os números da Associação Automóvel de Portugal (ACAP) mostram o efeito prático. Em Junho, foram produzidos 16 170 veículos automóveis, menos 29,5%do que no mesmo mês de 2020 e menos 43,6% do que no mesmo mês de 2019. Já quando olhamos para os dados de Janeiro a Junho deste ano, percebemos que, ainda que tivessem sido produzidos mais veículos do que em 2020, a variação em relação a 2019 é de menos 17,3%. "É importante efectuar a comparação também com 2019, para se ter uma ideia mais exacta do impacto da pandemia na produção automóvel”, explica a ACAP.

Crise inesperada

A pandemia é, como em muitos sectores da economia, a maior responsável pelas dificuldades por que esta indústria está a passar.

"A crise de escassez de semicondutores atingiu a indústria automóvel numa altura em que o sector começava a sentir uma ligeira recuperação”, diz Adão Ferreira. No entanto, e a contribuir para esta crise, há dois factores que envolvem diferentes sectores, mas que criaram a tempestade perfeita. Por um lado, aquando do primeiro confinamento a nível mundial, a produção automóvel decresceu devido à falta de procura. Por outro, e porque os fabricantes precisavam de continuar a escoar produto, houve uma canalização dos chips para outras indústrias.

Assim, quando os fabricantes de automóveis voltaram a fazer encomendas, "as linhas de fornecimento de semicondutores já estavam sobrecarregadas por uma procura significativa de chips do sector da electrónica de consumo, para telefones e infra-estruturas 5G, novas plataformas de videojogos e equipamento informático, continua Adão Ferreira. O mundo assiste também a um aumento dos preços das matérias- primas, um maior custo logístico nas importações e exportações, "devido à falta de contentores”, aponta Adão Ferreira, levando as fábricas a "grandes dificuldades na organização do trabalho e no controlo do aprovisionamento. "Há uma grande incerteza em torno das paragens não programadas, avisa ainda.

Por cá, a empresa mais afectada foi a Autoeuropa. A maior fábrica de automóveis do país produziu, em Junho, 10 890 veículos da marca Volkswagen, uma quebra de 33,7% relativamente ao período homólogo de 2020. Na tendência de quedas seguiu-se a Stellantis Mangualde, responsável pelos veículos Peugeot e Citroën, que viu saírem da sua fábrica, em Junho, 5 980 veículos, menos 30,7% que no mesmo mês de 2020. Para mitigar estes

problemas, as empresas estão a aumentar quando possível, os stocks de segurança. para não falharem nas encomendas variáveis dos clientes”, garante o responsável da AFIA. No entanto, isto não impede que se cumpram as previsões que ditam que um automóvel encomendado neste mês só chegará ao comprador em 2022.

Problema de dependência

Se este é um problema que parece ainda não ter solução nem prazo à vista, os especialistas lançam algumas mudanças de paradigma para preparar uma recuperação. As empresas de fornecimento de semicondutores localizam-se maioritariamente em território asiático. Mas, quando falamos de um sector que, segundo dados da AFIA, é responsável por 37% da procura semicondutores ao nível europeu, parece-lhes importante que a indústria europeia repense o seu papel no mercado mundial. "A Europa tem de tomar medidas de auto-suficiência para não estar tão dependente de mercados externos”, defende Adão Ferreira. "Do fabrico à investigação e desenvolvimento”, aponta.

Em cima da mesa, e para controlar os preços de matérias-primas como o aço, Adão Ferreira considera ser importante "a revisão da imposição das quotas de importação, sobretudo numa fase de escassez de oferta e de subidas de preços completamente insustentáveis”. A ideia final será a de "apostar numa verdadeira política de reindustrialização” para que o mundo não volte a parar por uma coisa tão pequena.

 Escassez de matérias-primas condiciona vários sectores

A escassez de matérias-primas é generalizada e tem vindo a pressionar diversos sectores em Portugal. Por exemplo, na construção civil, o cenário já se tornou insustentável. Com o país dependente das cadeias de abastecimento internacional e com o mercado asiático, nomeadamente a China, a açambarcar os materiais disponíveis, a escassez de bens transformou-se em realidade asfixiante para as empresas. A construção é agora pressionada pela inflação nos preços das matérias-primas, da mão-de-obra e ainda da logística. Até aqui, como o NOVO noticiou recentemente, o aumento na factura tem vindo a ser suportado pelas entidades executantes, mas acabará por se reflectir no bolso dos consumidores. Multiplicam-se vozes que defendem que a solução terá de passar pela produção interna. Metalurgia e metalomecânica também são exemplos de sectores que têm sido fortemente condicionados.
Fonte:NOVO Semanário
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